Notas biográficas sobre Célia Neves
Artista de mérito incontestável, Celia Neves ascendeu ainda muito jovem à categoria de «estrela», tendo participado nas melhores companhias de ballet clássico espanhol do seu tempo. Compilando várias críticas da época, nelas vemos sublinhado o classicismo, a técnica e a inspiração que imprime às suas interpretações. Críticos e admiradores atribuem-lhe o nome «A Alma Que Baila». Radicada em Portugal por casamento, é no nosso país, durante cinco décadas, a «Alma da dança Espanhola». As salas do Condes, Trindade, Monumental, S.Luís, Tivoli, Vilaret, Maria Matos e D.Maria II esgotavam lotações e enchiam-se de aplausos, confirmando a solidez pedagógica, o bom gosto artístico e o talento coreográfico de Celia Neves. Na temporada de ópera Teatro Nacional de S.Carlos de 1947/49, participou como bailarina e coreógrafa em bailados das Óperas Carmen e Traviata, cantadas então por grandes cantores internacionais, como Gino Bechi e Ebbe Stignani Convidada pela Companhia de Teatro de Lúcia Maria Martins, coreografou vários espectáculos apresentados por aquela companhia no Teatro Vasco Santana. |
A convite de Ana Máscolo, coreografa a Dança Espanhola do Lago dos Cisnes de Tchaikowsky e a convite de Amélia Rey Colaço, participa nas comemorações do V centenário de Gil Vicente, coreografando alguns autos que a Companhia Nacional D.Maria II levou à cena no Teatro de S.Carlos.
Em 1979, convidada pela Companhia Nacional de Ballet, coreografou e dirigiu os bailados do III acto da Ópera Traviata. É no início da década de cinquenta que funda em Lisboa a Escola de Ballet Clássico Espanhol com o seu nome, onde procura transmitir às suas alunas e alunos os seus profundos conhecimentos da dança espanhola: o baile clássico espanhol, o flamenco e as danças populares na sua versão genuína e na sua versão erudita, isto é, estilizadas. Impõe-se, desde então, no meio cultural de Lisboa pela alta qualidade e honestidade pedagógica, técnica e artística do seu ensino. A sua personalidade artisticamente multifacetada intensifica-se: bailarina pedagoga da dança, coreógrafa, figurinista, confeccionando inclusive o guarda-roupa, evidencia sempre uma fina sensibilidade e inteligência na escolha do repertório. Este repertório, amplamente diversificado, revela a sua espantosa versatilidade coreográfica e o seu talento com composições baléticas dos clássicos - Albéniz, Falla, Soler, Turina... -, das autênticas danças da Andaluzia e de outras regiões, e da aplicação da dança moderna expressionista a poemas de García Lorca tornando, segundo um crítico de televisão, explosiva de força e dramatismo a mistura da poesia e da dança. A graciosidade e movimento das suas coreografias, o cuidado e o bom gosto na escolha dos trajes, aliados a uma profunda sensibilidade artística, que tão bem sabia incutir nas suas alunas, tornavam os seus espectáculos uma maravilha de cor e frescura, onde as qualidades plásticas e técnicas faziam pensar que se assistia a um espectáculo de verdadeiros profissionais, sendo de notar que muitas das suas alunas tiveram uma carreira artística destacada. |
Para Celia Neves, a Dança confunde-se com a própria Vida - é simultaneamente paixão terrena e uma religião, uma arte sacra. Em Portugal, transmitiu esta arte a várias gerações de bailarinos e desenvolveu a sua admirável actividade artística, cultural e pedagógica sem qualquer subsídio oficial ou particular, que muito merecia. Por toda a sua obra nos domínios do bailado clássico e do folclore, o governo de Espanha condecora Celia Neves em 1971 com a medalha de mérito artístico e em 1984 é agraciada pela Cruz Vermelha Portuguesa com a Cruz da Benemerência. |